quarta-feira, 1 de outubro de 2008

In memorium

Muitos já tentarem descrever a existência da necessidade que temos do passado. Já vi cientistas e filósofos dizerem que isso é tentar ser alguém que já não se é mais ou, pelo menos, se prender a alguém que você acredita ter sido. E que dessas ou de qualquer outra teoria é o primeiro passo para o curto caminho da infelicidade.

Sou muito contrário a isso e, sendo um saudosista de carteirinha, me prontifico a afirmar que sou feliz com o meu presente e que, se possível, não trocaria a minha vida atual por nenhuma outra, fosse minha do passado, do futuro, ou de qualquer outra pessoa e em qualquer tempo.

Meus amigos dizem que lembro de coisas absolutamente inlembráveis(acabo de inventar uma palavra) para um ser humano normal.
Realmente confesso que de vez em quando até eu me surpreendo com algumas coisas de que me lembro. Partindo do ponto que nos meus primos a maconha e outros tóxicos destroem qualquer capacidade cognitiva de memorizar fatos acontecidos há minutos atrás, penso eu que devo fazer uso de alguma substância que causa efeito inverso em mim. Amendoim de estádio murcho com suco de uva amanhecido? Bom, isso não vem ao caso. Se um dia eu descobrir tenho certeza de que farei bastante por muitos desmemoriados planeta afora.

Pensando nisso tudo, resolvi fazer uma lista das coisas da minha infãncia/puberdade de que sinto mais falta. Desconsiderei o fator cronológico e, principalmente, o fator coerência-e-coesão.

Sinto falta dos almoços de domingo na minha vó com a pouca família que eu tinha reunida.
Sinto falta de esperar a semana inteira pelos futebóis de manhã lá em casa quando na verdade os tios iam mais pra beber do que pra jogar. Literalmente eu batia em bêbado (e me sentia o Ronaldinho!).
Sinto falta dos carinhos da Lully.
Sinto falta dormir no primeiro intervalo do Zorra Total. Principalmente, sinto falta de dormir.
Sinto falta de lutar com meu pai, de dar todos os ponta-pés e socos que havia aprendido no Jaspion e Changeman sem medo de machucá-lo.
Sinto falta do bauru que minha vó fazia(e ainda faz quando vou vê-la).
Sinto falta de ficar horas do telefone falando com o Pedro de como seriam nossas carreiras na Nba e no futebol europeu.
Sinto falta das meninas da escola dando em cima de mim e eu, com a timidez e inocência me dada por todos os deuses eunucos da pérsia, não fazendo nada, a não ser rir ou desligar o telefone na cara delas.
Sinto falta de tirar a camisa na educação física pra atrair o público feminino e a cobiça dos mais abonados abdominalmente falando.
Sinto falta de me apaixonar a cada 10 dias.
Sinto falta das partidas de videogame no sótão com o Jorge e o Alaor.
Sinto falta de acordar cedo aos sábados pra alugar "fita" de videogame e passar a maior parte do final de semana jogando pra dar tempo de zerá-la.
Sinto falta dos jogos de hoquéi de patins na casa do Cacá e de sair de lá direto pro campo de futebol da minha casa ou pra piscina.
Sinto falta da época que eu xingava as pessoas e minutos depois já estava tudo certo.
Sinto falta do meu cd do Akundum, da Shakira(pés descalços) e do Skank calango. E de jogar Simcity 2000 escutando algum deles.
Sinto falta de inventar dores pra não ir pra natação, mas acabar indo sob coerção do meu pai saber.
Sinto falta de escolher um presente quando as notas vinham no final do bimestre. Sinto falta daquelas notas também!
Sinto falta do frio na barriga ao dirigir pelo bairro com 14 anos.
Sinto falta de responder 'no sul' quando álguem me perguntava onde eu queria morar quando crescesse. E ainda imendava 'porque lá é frio'.

A.